27.10.09

 
Morte deliveri


Ué, num quiseram pagá pra ver?
Acham que pode vir aqui com o caverão urubuzar nóis, tocar o terror, dar trocentos pipoco e sair no sapatinho?
Querer fudê nossa guerra de poder?
Perdeu playboy!
Quem manda no morro é nóis. E o sistema aqui é bruto. O presunto aí no carrinho é só um aperitivo pra sair nos jornais. Um patê pra forrá o estômago de voceis.
Cês num tava feliz com as olimpíada? O Brasil num tinha virado país de primeiro mundo? Taí. Mais um motivo pra comemorá. E pros gringo vê como nóis é evoluído. Como a gente aterroriza no esporte. Ninguém ganha de nóis em arremesso de bala perdida, granada a distância ou tiro ao helicóptero.
E de onde veio esse aí tem muito mais. É só continuar a zicá a santa paz da nossa comunidade e querê desbaratiná a facção.
A gente também sabe fazê promoção. Na próxima, matou um, leva três. Nóis vai liquidá geral. E ó, nem precisa botá a mão no bolso. A gente entrega a morte em casa. Até porque, meu irmão, cortesia é oferta da casa.

20.10.09

 

Malabares no ar III


Antes sonhávamos com desejos maiores. Tentando não nos contentar com o pouco nunca muito que nos dão. Dão? Não. Eles nunca dão nada. No máximo, emprestam. Só pra sentirmos o gostinho. Provar. Ver como é bom. E aí, tiram. Tiram? Nada. Arrancam. Como se não merecêssemos. Ou merecendo não pudéssemos. Ou pudendo não nos dispusessem. E ainda cobram juros explosivos por esses parcos segundos de felicidade emprestada que mal curam uma vida inteira de desgraça parcelada em nada suaves prestações. Sim, sabemos que a felicidade é cara. Que nunca vem de graça. E que a desgraça de não tê-la é muita. Mas precisava custar tantas lágrimas? Acabar com princípios? Roxear manchas? Cataratar sangue? Estuprar a alma? É, acreditávamos que não. Mas também nos extirparam todas as crenças. Até a dos desejos menores. Como, por exemplo, o de querer continuar sobrevivendo.


12.10.09

 
Malabares no ar II

“E hoje resolvi sentar / numa das pontas da lua minguante
sente na outra / por favor.”
Hojerizah

Pegue o seu desejo e jogue-o no ar.
Não, esse, não.
Não é qualquer desejo.
Você já deveria saber...
É aquele que foi/é eternamente seu.
Que nem precisa pensar qual é.
Que o domina.
Que é mais forte que você.
Isso.
Este!
Agora, outro.
Tão importante quanto.
Por fim, o terceiro.
Não menos fundamental.
Parabéns!
Bela escolha.
Talvez não seja digno deles.
O homem e suas ambições...
Mas vamos lá.
Estou aqui pra ajudá-lo.
Mantenha-os sempre no alto.
Mostre que está à altura deles.
Que quer e pode alcançá-los.
E, acima de tudo, merecê-los.
Cadencie o movimento dos três cuidadosamente.
Atentando para a volatilidade tão inquietantemente intrínseca aos desejos.
Para o dinamismo peculiar de cada um.
Faça de tudo pra que eles não caiam.
Nunca!
Isso, assim.
Com cuidado.
Prestando atenção nos três ao mesmo tempo.
Tá indo bem.
Quase conseguindo.
É só não deixar cair.
Agora, basta você...
Quê?
Não!
Um quarto, não!
Eu disse NÃO!!!

5.10.09

 
Minicontos fraseados III


Resolvi abrir a janela de novo.

A cartela vazia de calmante dormindo feliz no chão por não ter precisado esperar dar meia-noite.

Pílulas do dia seguinte tomadas quase todos os dias.

Ontem estava melhor. Surgiu até uma ligeira vontade de falar com alguém.

Abortos a céu aberto.

Quando a cama quebrou, eu e você não tínhamos nos despedaçado ainda.

Cursinhos que nunca a colocaram em curso.

A mão que apóia a cabeça sente mais o peso do desânimo do que da cabeça.

Noites sumidas com gente desencontrada.

Esta caixinha não é de natal. Ela é minha vontade de transformá-la no seu caixão.

E o grande ápice: conseguir transformar uma droga de vida numa vida que é só droga.

Cumprimentou a mão que estendi como quem pega em cocô.

E gente da nossa casta não gosta de ver pessoas dessa casca.

Encostas foram feitas para serem desencostadas, e se casas são soterradas, a falha é desses encostados que não procuram lugar decente pra viver.

Cada um tem o para-raio que merece.

2.10.09

 
Minifato XIII
(a realidade goleando a ficção)


“A vida tá fácil; o difícil é o dia a dia.”

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