28.8.15

 
Sommelier de catástrofes


Esta tem aroma intenso de queima e notas de pele carbonizada. Mas faltou ser mais encorpada. Hoje em dia, 199 corpos, ainda que decapitados, não rendem três minutos e meio nos telejornais. E nem meia lágrima do Papa.

Já esta tem bom retrogosto. O amargor perdura por décadas no labirinto de papilas da alma. Difícil distinguir de qual região é. Talvez do deserto do México. Mas peca pela apresentação. Tudo muito asséptico. Sem sangue. Sem vida. Típica de matadores profissionais que não se entusiasmam mais.

Coisa de amador. Totalmente esquecível. Só pelos cortes irregulares você vê que eles tão começando. Faltou preparo na tortura. E deixaram uns com vida.

Com certeza esta é a melhor. Seu sabor marcante enegrece a bílis do mais insensível dos homens. E o melhor: envelhece bem. Os sobreviventes continuam sofrendo e transmitindo sua desgraça genética.

Mas esta eu não faço ideia. Fiquei estarrecido. Lembra algo da infância. Da minha infância, talvez. Nem sei o que dizer.

7.8.15

 
Levitação


Cair de paraquedas
no anteparo da trégua. 

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