25.11.08

 
Deu tudo certo até começar a dar errado


Quando a coisa foi crescendo, mal acreditou que algo que começou quase por brincadeira desse tão certo.

Mas tudo foi rapidamente tomando proporções gigantescas e, quando menos esperava, já tinha o dobro da coisa. Largou o emprego. Até porque aquilo não era grande coisa.

Recomendou a coisa a amigos, parentes, todo mundo. A imprensa não cansava de alardear que a coisa tava bombando.

O triplo da coisa.

Todos os analistas projetavam que ia dar muito mais lucro. Enfim, não havia coisa melhor a fazer.

Quatro vezes mais da coisa.

Mas aí uns caras (porra, tem sempre uns malditos caras) começaram a dizer que a coisa não era bem assim. Que alguma coisa estava errada. E que a coisa, que continuava bombando, podia explodir. Típico papo de quem não diz coisa com coisa.

Os jornais, que tinham parado de falar da coisa, agora diziam que seu crescimento fora absurdo. E que a coisa tava preta.

A coisa desabou. Perdeu tudo o que tinha.

Menos a mania de acreditar nas coisas.

18.11.08

 
Minicontos fraseados II


Meus assessores, que me assessoram o tempo todo, são a melhor assessoria que pude montar com os ascensoristas de plantão.

E esta casinha de papelão é só o alicerce de uma futura mansão.

Pode transformar a lei de diretrizes orçamentárias em lei de meretrizes ordinárias que nenhuma CPI vai revelar a “comissão” que acontece por baixo do pano nessa comissão que brilha na mídia, mas chafurda na merda.

O que, sentido, grava-se na pele e pode ser lido em braile.

Sou, ou tento ser, o candidato dos excluídos, dos que estão na pior da pior e tentam evoluir pra merda; que é um lugar agradável se comparado com o nosso.

O que, pressentido, pré-senta-se na cadeira de morte.

Pode gerir ingerências, incongruências e indecências jamais vistas ou imaginadas, pois não há cláusulas de barreiras que impeçam a usura tão usual nessas usurpações que fazem todo veto virar um voto torto.

O que, ressentido, bile mágoas e magoa-me.

Até esse coração ficar tão duro que vire um amuleto de mim.

11.11.08

 
Empregadice


Ela num sabe onde fica Perus. O que é não ter 50 real pra comprar um peru e ouvir as criança reclamando de comer frango de novo no natal. Num imagina o que é acordá de madrugada, pegar dois ônibus e trem pra chegar aqui nove e meia e agüentá reclamação de que tá atrasada: “Ô, Dona Dirce, precisa vim mais cedo, senão não dá tempo de fazer tudo”. Nunca pegou um papelzinho do chão. Nem desses que caem do lado do lixinho da privada com a parte marrom pra cima. Por que não joga a merda do papel no lixo? Claro, tem a Dirce pra pegar. E pra arriscar até a alma limpando os vidro da janela que pra ela tão sempre embaçado. Só a sacada daqui já é maior que nossa edícula. Bem que eu podia ter estudado. Arrumado profissão de gente. Caixa de mercado, secretária, professora. Ganhar mais que esses 40 real e a condução. Do que esses três pedacinho de lingüiça que ela punhou pra mim, enquanto o filho come dez. Mas num adianta. Não tenho outra (como é que ela disse?) empregadice na vida.

4.11.08

 
Telemarketing


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