25.3.08

 

Contramão


Por mais que me afaste, meus pensamentos continuam colidindo com você. Rumo sem rumo, fugindo mais de mim do que do nosso passado. Acelero, mas a velocidade é ultrapassada pelas lembranças que constantemente me atropelam. Paro. Já não há (havia?) por que ir. Pelo retrovisor, olho os outros carros vindo de onde você está. De onde deveríamos estar. Como se os expulsasse e me dissesse que finalmente entendeu que precisamos voltar. Que eu preciso voltar. Agora! Sem demorar mais nenhum segundo. Sem me importar com retornos, placas e leis criados só pra nos atrapalhar. Dou meia volta no acostamento e sigo contra tudo e contra todos que querem nos separar. Não compreendem que a direção certa e ir em sua direção. Buzinam e gritam e xingam, mas só consigo ouvir sua voz. A mão direita carinha sua foto. Na palma dela vejo a aliança. E nosso destino na contramão.


18.3.08

 

Achei que você teve certeza de que tivesse me visto

─ Alô.

─ Oi! Como vai?

─ Nossa, você!

─ Faz um tempo que a gente não se fala, né?

─ Muito tempo.

─ Você nunca mais ligou...

─ Depois do terceiro convite que recusou, pensei que não queria me ver mais.

─ Eu tava enrolada com uns problemas.

─ Tudo bem agora?

─ Sim, tô melhor. E você?

─ Bem também.

─ Acho que vi você na terça passada...

Achei que você teve certeza de que tivesse me visto.

─ Na verdade, percebi quando me olhou.

─ Disfarçou bem.

─ Pensei em falar com você. Se não estivesse acompanhado...

─ É, eu tava.

─ Tá namorando?

─ Não. Mas ela já aceitou três convites meus...

─ Cê continua magoado comigo, né?

─ Que nada. Dias antes, achei que tivesse visto você num bar; era só alguém parecida.

─ Sério?

─ Meu pensamento tem o poder de atrair pessoas. Demora uns dias, mas atrai.

─ Que bom. Podíamos sair pra provar que também tenho esse dom.

─ Naquela época, faria tudo pra isso. Mas esse é o primeiro convite?

─ Não brinca!

─ (...)

─ Você me liga?

─ Acho que sim...


9.3.08

 
São São Paulos

São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
Tom Zé



São Paulos são Céu e Ceumar
embora o céu não seja seu e mar não há
São a Angélica e os inferninhos na Augusta
e os Demônios da Garoa
e garoa, garoa, garoa
E onde filho chora e mãe não vê
e da multidão solitária que só se vê na TV
E a terra do Chorão e do chorinho
e do túmulo do samba
e do samba atrás do cemitério no Ó
e de muitos ohsss!
E de rock e Mutantes
e pagode, sertanejo, MPB, rap,
forró e outros estilos conflitantes
Do Sabotagem e de sabotagens
e de santos e Paulos Malufs
Dos barzinhos da Vila Madalena
e de tudo que se condena
Da Rita e do Arnaldo
do Antunes e do Oficina
e de cantinas e chacinas
Do Huck e do Ferréz
e dos rolés e dos Rolex
Da boca do lixo
e do lixo na boca
Do luxo da Oscar Freire
e dos mendigos nos Jardins
Mas, mais do que tudo,
São Paulos são muitos
dos que hão em mim.

3.3.08

 
O segredo II



EU TENHO A FORÇA DE VONTADE!!!

EU TENHO A FORÇA DE VONTADE!!

EU TENHO A FORÇA DE VONTADE!

EU TENHO A FORÇA DE VONTADE.

Eu tenho a força de vontade.

Eu tenho a forca de vontade.

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