25.9.07

 
Recado


Filho

José da Silva, o senhor que você bateu o carro, esteve aqui.

Ele disse que você estava bêbado e fugiu pra polícia não pegar.

Que você atravessou o farol vermelho.

Na hora, fiquei nervosa, minha perna tremeu e deixei até o prato de comida cair no chão.

Filho, ele falou que você estava bêbado!

Disse que não vai ficar assim.

Que você destruiu o carro dele.

Ele tem testemunha.

Que que aconteceu, filho?

O que você aprontou?

Tem alguma coisa errada nessa história.

Ele disse que você estava bêbado.

Veio aqui e falou até pro porteiro do prédio.

Fez escândalo.

Eu já disse pra você parar.

Agora, estou com medo até de sair na rua.

Filho, não tô agüentando mais.

Fui pro bar beber.

18.9.07

 
O manto úmido da saudade


A mesma companhia que lhe falta agasalha-a com a solidão.

Pois se as lembranças e os momentos quentes andam frescos na memória, a saudade, com sua imobilidade contínua, petrifica um coração que agora é só gelo.

Um pouco de sol poderia aquecê-lo e degelá-lo, não tivesse você se trancafiado no porão sem portas da tristeza.

Lá, vazio de si e cheio de nada, anseia pelo contato de alguém cuja ausência se faz cada vez mais presente.

Um presente de futuro um tanto incerto, geminado que está num passado germinado na ilusão.

Teria vontade de mudar isso, se ainda conseguisse ter vontades.

Ou se a única vontade que tivesse não fosse justamente a de não ter vontade nenhuma.

6.9.07

 
Miniconto. Um ano. Primeiro ano?


Órfão
Como cheguei até aqui
AplauS.O.S.
A incrível arte que eu não tenho de cantar junto uma canção que está tocando no rádio
Cada um tem seu par
A venda
Derrota
Debatendo a cara pra bater
Amuleto de mim
A neurolingüística da casa de papelão
Ex-tamira
Rio
Brasília
Feriados
O silêncio é a gente mesmo demais
Cemitério
Networking
Como é que chama isso aí sem nome?
Receita para um natal feliz
Ano novo, vida velha
Sérgio Sampaio
Sérgio Sampaio II
O prelúdio do dilúvio
Carência
Eu mereço coisa melhor
Três carnavais
I - Escola de Samba Unidos da Desunião
II – Bandeira branca
III – É carnaval em Salvador
O dia em que o Sol sair de novo
Soberba
Você acha que consegue me cansar?
Aeroporcos
─ Que qui cê tem de goró aí? Porque eu não preciso beber pra ficar alegre
“Desvio para o vermelho”
“A minha casa é uma caixa de papelão ao relento”
Roteiro turístico
Bem imóvel
Fudeu!
A etérea esterilidade do meu desejo eterno e efêmero
Carrinho de batida
Casamento II
Casamento I
Casamento 0
Rádio-relógio
Depressão geográfica
PARE DE SOFRER!
Presença de espírito
A queda
Japonês-Hilux
Aeroporcos II
Ônibus
Serpentinas em luto
Equação
A volta da Manu
A volta (ou A vida não é Algodoal)
Sua saudade não vale um cartão da Telemar
O copo
"Vim buscar tudo o que é meu"

4.9.07

 
"Vim buscar tudo o que é meu"


À Fernanda.

Essas roupas aí são só o começo.

Não é à toa que você as guardou até hoje. Como se quisesse vestir nosso passado de novo. Sabia que eu iria voltar. Que nunca deveria ter me abandonado. E que meu lugar sempre foi e sempre será aqui.

Tadinho! Quem diria que após ter me escorraçado acabaria vestindo-se eternamente com o manto úmido da saudade.

Agora sente falta do meu calor? Das nossas noites quentes e intermináveis? Pois é bom que sinta bastante para sofrer nessa sua pele enrugada pela tristeza da minha ausência como dói amar em vão.

E vão era tudo o que eu tinha no meu coração depois do buraco que você fez nele.

Ah, mas disso é claro que você não se lembra. Assim como também deve ter esquecido que eu jurei que um dia voltaria aqui pra buscar tudo, absolutamente tudo o que é meu. Incluindo você.

Nem que seja para eu pegar essas coisas todas que atualmente não me têm mais serventia e amontoá-las no lixo.

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