26.3.07

 
Você acha que consegue me cansar?

Rá. Vá tentando! Isso, tenta mais. Tá aí se achando o garanhão só porque tá me comendo na primeira noite. Quer saber? Se não fosse você, seria o carinha do lado. Eu só tava a fim de dar pra alguém hoje e ponto. Aliás, já ouviu em falar em ponto G? Ué, que foi? Não tá acostumado? Que preconceito é esse? Só os homens podem fazer isso? Coitado. Passou tanto perfume e nem conseguiu esconder o cheiro de leite. Pode deixar que quando você sair da fase da fralda eu aviso. Isso, tenta mais. Eu ainda tô esperando. Sua mãe sabe que você tá aqui? Deve ser ela ligando no celular agora. Bem que você podia vibrar mais também, né? E não ser tão coelhinho. E não ficar na mesma posição. Conhece o kama sutra? Que tal dizer umas besteiras no meu ouvido? Me dar uns tapinhas. Sei lá. Dar algum sinal de vida. Você tá aí ainda? Acho melhor se esforçar mais. Bem mais. Que eu não gosto de passar vontade. E já tá me dando vontade de ir embora.

─ Tá cansada?

20.3.07

 
Soberba


“A mulher quando é moça e bonita
Nunca acredita poder tropeçar
Quando os espelhos lhes dão conselhos
É que procuram em quem se agarrar”

Lupicínio Rodrigues



O lado ruim de ter o nariz empinado é que basta uma chuva mais forte para a pessoa morrer afogada.

E no caso dela, se chuviscava todos ficavam em alerta.

Sim, porque seu rosto, seu corpo, sua pele, sua altura, enfim, tudo nela chamava a atenção. Era soberba. E o pior: inteligente.

Sua incandescência refletia os olhares invejosos com a energia de cem Itaipus.

Daí, claro, nunca achou ninguém à sua altura (da qual quando ela caía em si ainda errava por seis metros).

E esse era o único erro que cometia. Era perfeita. Mas tinha a imperfeição da perfeição. E esse era o outro único erro que cometia.

Porém, sozinha, os anos passaram e lhe incrustaram rugas, apagaram brilho, traçaram estrias, cavaram celulites, dinamitaram memória, encharcaram lágrimas e deceparam-lhe com decepções sem fim.

Hoje, é uma pálida sombra daquilo tudo que nunca foi.

13.3.07

 
O dia em que o Sol sair de novo


Eu acreditei no Sol.

Apesar dessa chuva forte com cheiro de enxofre que não pára desde que houve o estrondo. Dessa amarga escuridão que seca minhas vistas e faz com que meu corpo colecione manchas roxas ao tropeçar nos cantos da casa. Desse silêncio agonizante e ensurdecedor. Será que o mundo inteiro está assim? Por que a luz não funciona, o telefone está mudo e mesmo minha energia parece estar acabando? Não tenho vontade nem de abrir os olhos; vejo com eles o mesmo que veria sem. Aliás, “sem” virou a palavra mais constante aqui. Sem comida, estou perdendo a força para gritar na tentativa de encontrar alguém. Sem notícias, sinto-me abandonado por parentes e amigos. Sem esperança, desisti de contar os dias que já se passaram desde o começo dessa tragédia de noites sem fim. Sem companhia, não tenho ninguém para compartilhar minha loucura. Sem nada, não quero ficar mais nem comigo. Sem mim, pode ser que o Sol até saia de novo.

7.3.07

 
Três carnavais


III – É carnaval em Salvador

Quebra aê, quebra aê
Olha o ASA aê

Olha 1 só aquela outra que já tá 6 chambrelê. Aposto que é só 9 chegar lá e... Pronto, beijei. Puts, e agora? Essa era a número 13 ou 14? Porra, este bloco é foda! Eu sempre perco as contas aqui. Da próxima vez trago uma caneta. E o trio não tá nem na metade. Pô, mas se continuar assim eu não vou bater meu recorde do ano passado.
O amor me pegou puro e verdadeiro
Pra durar, vai durar, pra lá de fevereiro

Bom, mas 25 vamos pra outras que eu não tô na pipoca pra ficar vendo mina bonita passar 31 sem pegar nenhuma. E também não paguei 900 reais à toa nesse abadá que é camisa mais cara que comprei até 37 hoje. Mas que espanta mulher 42 feia de mim como o diabo foge da 46 cruz.
Chicleteiro eu, chicleteira ela
49. Agora vai só falta uma. Tá fácil. Tem mais uns dois minutos ainda. Podia chegar naquela ali que é mais ou menos. Mas que garantiria meu recorde. Seria só agarrar e beijar. Peraí... Mas beijar pra que mesmo? Quem? E por quê?

6.3.07

 
II – Bandeira branca

À Vera de Joanópolis

Merda de cidadezinha de bosta onde eu fui me meter. Tanto lugar para morar e eu aqui, enfurnada nesse fim de mundo e vendo as rugas cicatrizarem meu rosto. Cada risco que aparece é como se fosse um pretendente a menos.
Não posso mais
Onde as pessoas bebem e fumam como doidas porque não têm mais nada pra fazer. Onde até espirro vira assunto de fofoca. Que saudade dos tempos em que era jovem e desejada. Todos me tiravam pra dançar e eu ainda dava fora em vários.
Saudade, dor que dói demais
Hoje sou eu que não tenho coragem de convidar ninguém pra dançar nesse baile de carnaval. E olha que a banda está cantando até as músicas do meu tempo. Recordações que invadem minha memória e atravessam meu coração como flecha.
Pela saudade que invade
E pra piorar estão tocando a música que eu mais gostava. Dava minha vida só pra dançá-la com alguém. Alguém que me fizesse lembra que ainda estou viva. Podia pedir pra aquele senhor ali, mas...
Eu peço paz

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