23.6.11

 

Vazamento de vida

No aniversário
um cano escorre o tempo
desazulejado.


22.6.11

 

Ponha um pouco mais de de-li-ca-de-za


PAH!

Caio colando o rosto e o desgosto no chão, mas até que o concreto tá menos frio do que o olhar que você dirigiu (metralhou) pra (em) mim.

AIHIINN!

Seu chute acerta meu fígado, mas nunca gostei de fígado mesmo e esse sapato que eu lhe dei (bem que o vendedor falou) dói menos do que suas coturnadas.

TIGURF!

Seu cuspe escorre no meu rosto-roxo-pós-soco, entra na minha boca e mata a saudade que eu tava da sua saliva, dos tempos que a sorvia gota a gota, bem diferente dessa aí que você cachoeira espumando de raiva.

TRIMMM!

Antes de cair a aliança faz uma parábola no ar, uma parada na minha mente, uma parábola bíblica na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na... mas qual, QUAL? riqueza se você roubou até eu mesma de mim?

RECTRUTÁC!

Você abre o tambor, põe a bala, me aponta o revólver e nervosa o dedo no gatilho.

(?)

Se novamente errar, só peço que amanhã, antes de reiniciar a rotina, ponha um pouco, só um pouquinho mais de de-li-ca-de-za.


13.6.11

 

Dia dos Namorados


Ela na edícula jogando suas tranças de mega-hair pago à prestação pra ele subir.

Ele jogando tranca pra subir na vida.

Um típico amor em ascensão.


8.6.11

 

Bulingui


O Tetinha era foda.
A gente no recreio fumando escondido do bedel e o Tetinha lá, estudando na sala.
O povo no futebol e o Tetinha lá, fazendo drinks de CDF com a buceta do bico de Bunsen.
Todos pegando as menininhas nos bailes e o Tetinha lá, não sendo convidado e virando o alvo das piadas.
Aquilo era um absurdo e não podia continuar sem alguém dar um jeito no TE-TI-NHA!
E esse alguém éramos nós.
Porra, se não era.
Esperamos ele, quer dizer, a coisa amorfa, no seu hábitat natural: a cantina.
Após suas três-coxinhas-duas-esfirras diárias, o troço foi ao banheiro cagar as três-coxinhas-duas-esfirras-quatro-bananas-comidas-em-casa diárias.
E aí jogamos nele TODOS os cestos de papel nada higiênico que tavam ali e os que trouxemos de casa.
Afogamos o idiota naquela neve imunda empilhada até o teto.
E o pior, o pior mesmo, que lembramos até hoje, não foi isso.
Minutos depois ele saiu todo nevado de merda, viu os que tavam ali esperando a bosta que ia falar e...
Não disse nada.
O Tetinha era foda.


1.6.11

 

Natal polar


Fingindo ser urso polar, um peru hiberna há meses no congelador, esperando um motivo para sair.


 

Minifato XXV
(a realidade goleando a ficção)


Com 105 anos, o mineiro Antônio Ferreira está à procura de uma namorada.
Os pré-requisitos básicos são “não beber, não fumar e nem ser viciada em jogo”.
Outra coisa: tem limite de idade. Mais ou menos 50 anos.
“Uns 50 anos está bom”, diz seu Antônio.



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