29.12.09

 
Essa doença


Receita
Tecnomort® 500mg (uso contínuo)
2 cp em jejum, 4,5 cp após as refeições e 0,37 cp a cada 2h37min

Reações adversas
Indisposição, cirrose, fadiga, calafrios, insônia, sonolência

Exames
Hemograma completo
TGO, DDT e TNT
Ultrassonografia do dedo mínimo do pé direito
Ressonância da cervical em decúbito mental
Raio-x da aura

Diagnóstico
“Você ter MORTILOARTRITE ANIQUILANTE, doença crônica que acomete os órgãos do...”

Reações adversas
Anorexia, furuncolose, visão embasada, afasia, irritabilidade

Médico nazista
“Eu não MANDARR você interromper a remédio! Eu falar USO CONTÍNUO”

Estudo de caso
Constatou-se importante sobrevida média de 6 meses nos pacientes tratados com Tecnomort®

Médico nazista
“Se mortiloartrite ter cura? Câncer ter cura? Sua doença também NÃO ter cura!”

Reações adversas
Vômito, disfunção menstrual, infertilidade, convulsões, morte súbita

Restrições
“Não poder beber álcool, ir a lugares públicos, sair de casa, não poder fazer nada”

Receita
Seguir o tratamento RIGOROSAMENTE. Até o FIM

22.12.09

 
11 Pontos de alagamento II


1° Em São Paulo chove muito no verão. A culpa não é minha. É do efeito estufa.

2° Reclamem com o Obama e com o pessoal lá de Copenhague.

3° Já são mais de 30 mortos em dezembro? Puts, apostei com meu secretário que não passava de 25. Perdi um uísque.

4° O Jardim Pantanal tá um caos? O cara constrói um puxadinho num lugar chamado Jardim Pantanal e reclama que alaga? Não entendo a cabeça do povo.

5° Tão usando canoas nas ruas? Ótimo. Vão se preparando pras olimpíadas.

6° Morte por leptospirose não é problema do governo. Quem manda criar rato como bicho de estimação?

7° Investimos 2 milhões nos piscinões, 3 no Tietê, 5 em saneamento e 15 em publicidade (não basta fazer; o povo tem que saber que tá fazendo).

8° O nível do Tietê tá subindo? Que bom. Se parar de subir perco as propinas das obras no rio.

9° As marginais tão paradas? É bom pro povo meditar.

10° Há centenas de desabrigados? Ué, pobre não tem parente?

11° Vem mais chuvas por aí? Isso é problema do próximo eleito.

15.12.09

 
Vaca homeopática


─ Tá doendo?
─ Que nada. Vai até o fim.

Porra, dói pra caralho! Mas desistir agora? Logo na última? Não. Mas tinha que ser no rosto? Sim. São 23 manchas dos pés à cabeça. Ou das patas à cabeça, como ironizou um empresário babaca. Fez gracinha, me chamou pra sair e no final nada de patrocínio. Se eu tivesse dado pra ele, liberaria a grana. Idiota. O outro banca a Bienal e acha que tá ajudando o país. Não sabe o que é a verdadeira arte. Burgueses escrotos. Danem-se todos! Vai sem patrocínio mesmo.

Quando minha arte for reconhecida, ah, eles vão ver. O mundo inteiro verá. Aqui, ó, na minha pele! Nada de quadros embalsamados. Sou o próprio suporte do meu talento.

No começo, nem o tatuador topou; foi foda convencê-lo. Até os amigos me isolaram: puta piração minha, disseram. Meus pais então, nossa, nem falam mais comigo.

Mas agora eu é que não vou falar com ninguém. Quero ficar só aqui, ruminando meus pensamentos. Louca pra virar uma vaca e concluir meu projeto “Vaca Pró-Fama”.

9.12.09

 
"Abacaxizinho de Natal"

"Era melhor um pernil, mas enviaram esse abacaxizinho de Natal."
José Thomaz Nonô (DEM-AL),
relator do processo de expulsão do governador José Roberto Arruda


Nada vai estragar nossa ceia.
Nada!
Não é um mensalinho mirrado, um diazinho descuidado ou um minutinho de deslize que vão azedar um ano farto de glórias pro Partido.
Nunca trabalhamos tanto em prol do progresso (nosso Poder aumentou, nosso patrimônio quintuplicou, nossos lobistas viraram lobos e até nossas amantes multiplicaram).
Só a mídia que insiste em nos denunciar de vez em quando é que regride. Pura maldade ficar mostrando alguns dos Nossos escondendo dinheiro em meias, cuecas, sutiãs, supositórios e vibradores. Pondo o que é público, mas privado, como se fosse a privada do público.
Mas o que importa é que o povo volta a votar na gente.
Pra isso damos panetones a todos, numa versão moderna do defasado “pão e circo” (como disse, progredimos sempre).
Nós, os DEMOS, somos anjos de bondade nessa política infernal.

2.12.09

 
A edícula do inferno


Morar é modo de falar.
Na verdade a gente tenta sobreviver neste cortiço onde onze infelizes, ratos, baratas e desgraças vieram parar após mendigarem pelas ruas sem encontrar lugar melhor que o esgoto.
E o esgoto tá logo ali do lado. É o rio que banha esta nossa cadeia. Tem gente que não entende como aguentamos viver aqui com esse cheiro, mas nem sentimos mais. Está tão impregnado na pele que sai no suor. E serve como uma marca. Sempre sabemos quando um de nós está por perto.
Brigas, facadas e assassinatos fazem parte do nosso dia a dia. Além de ser um bom método de controle populacional, também nos poupa de ver os jornais.
A vizinhança? Ah, não podia ser melhor. E não é. Todos traficantes da pior espécie. Mas ficamos seguros e livres de roubo com eles aqui (supondo que haja algo pra ser roubado).
O aluguel do quarto? Pô, pra você é baratinho. Não vamos cobrar nem a comissão da imobiliária. Porém, o pagamento é adiantado. E sem devolução.

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