28.2.14

 
O olho ruim da Ritinha


Mirou, fitou e viu.
Tapou o olho ruim com a mão e fez o bom confirmar.

“Pai, por que o menino tá amarrado no poste?”
“Qual poste, Ritinha? Num tô vendo nenhum menino.”

Ritinha acreditou, ainda que os caras que amarraram o moleque saíssem correndo e tropeçassem nela.

Mais à frente, vê – na certeza do olho bom – dois rapazes de mãos dadas. Eles se beijam. Que fofinhos, ela pensa. Pensamento interrompido pelo careca que quebra uma lâmpada num deles, que cai desmaiado.

“Mãe, o rapaz fez algo errado?”
“Não tem nada errado, minha filha. Ele só tá dormindo.”

Ritinha começa a duvidar se o olho bom que enxergava essas coisas estranhas era bom mesmo, ou se o outro, que via só vultos, era melhor.

À noite, só pensava nisso.

Foi pedir pra dormir com os pais. Abriu a porta e viu a mãe pelada com um cara pelado. Fazendo um troço esquisito. E o pai filmando tudo.

Só faltava isso pros pais porem pra sempre um tampão no olho bom da Ritinha.

O olho que, na visão dela, não era tão ruim assim.

12.2.14

 
Idade das Trevas


A violência é amarrada a poste e dá à luz a um lindo casal de gêmeos: o linchamento e a ignorância.

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