21.4.14
Eu era o Pateta
Quando vi a vaga no jornal, eu não tinha nada a perder.
Quando falaram que era só pôr a fantasia e imitar os bichos da
Disney pra rodar o mundo no navio e comer do bom e do melhor, eu era o cara que
daria tudo pra isso.
Quando disse que queria ser o Mickey, o sacana riu e falou
que eu era um pateta que só tinha jeito pra ser o Pateta.
Quando o navio saiu e disseram que eu só tinha que ficar
fazendo palhaçada e abraçar os filhinhos de papai, eu era o Pateta feliz.
Quando veio a avalanche de pestinhas me apertando,
derrubando e querendo tacar até fogo em mim, eu era o Pateta prestes a
explodir.
Quando dei um tapa sem querer naquele demoniozinho e ele
bateu a cabeça na quina do banco e morreu, eu era o Pateta ferrado.
Quando a juíza disse que eu era um perigo à sociedade e deu
30 anos de prisão, eu era o Pateta preso.
Quando me curraram na cela e me transformaram na alegria da
rapaziada, era eu o Pateta puto.
11.4.14
Projétil de vida
A arquiteta Lordinha Siqueira recebeu amigos para celebrar seu
aniversário com um jantar em sua casa no fim de semana, no Jardim Europa.
A sem-teto Loquinha Silveira recebeu mendigos para fumar pedra
debaixo do seu viaduto, no Jardim África.
O banqueiro O. Lavo Setubal e sua mulher, Nádia de Nada, abrilhantaram
o evento, que teve ainda a atriz Zelda Deflashy, que pipocou as lentes dos fotógrafos.
O bancário O. Sem Nome e sua rapariga da zona, Tudete do
Cachimbo, também colaram na quebrada, provando de novo que o bagulho é o louco,
o processo é lento e os penetras não pagam.
Deysinha Rosa Shocking e seu marido, Cornomâncio Amado, deslumbrantes
a bordo da limusine branca, arrasaram na festa e roubaram a cena.
Deusina Preta e Armando Ódio, seu comparsa de venda de pó, não
roubaram nada porque nada havia pra ser roubado.
Os convidados estouraram várias garrafas de champanhe.
Seleção natural
“Se você for admitido, quais serão seus primeiros movimentos?”,
provoca o gerente de RH.
“Esquizofrenia múltipla”, diz ele encerrando a entrevista.