28.3.20
Aluga-se
Placas de “Aluga-se” multiplicam-se
para anunciar que estamos
todos à venda.
25.3.20
Eu catava latinha no seu bloquinho
“TIRA O PÉ DO CHÃO!”
Esta é a parte que eu mais gosto.
Quando todos os pés estão acima da minha cabeça já tão rebaixada pela vida, eu surfo naquele mar dourado de latinhas repisadas como as minhas mãos.
Neste um segundo e meio que dura o salto, salto para a vida que me assalta: uma latinha a mais pra pilha que deixaria qualquer um pilhado.
Este é meu carnaval: não importa se a bailarina não quis dançar comigo, se o policial me prendeu, se o Huck me bateu, se o coronavírus me adoeceu ou se o Coringa ficava só zombando de mim.
Pensei em perguntar do que estava rindo. Não precisa. Fantasiado ou não, sou sempre o Bobo da Corte para os Reis Momos da vez. Que mil alumínios me cortem se alguém olhar sério pra mim um dia.
Eu, resto que restou das sobras e à sombra de tudo.
Sem nenhuma pequena Eva pra me abraçar no espaço de um instante.
Espaço que fica inda maior quando teu salto me rebaixa e me afunda neste abismo que cavaste com teus pés.