13.2.07

 
I - Escola de Samba Unidos da Desunião


Minha escola é campeã de harmonia. Até porque se esses favelados não fizerem o que eu mando o pau come. Que meu nome e meu patrimônio tão em jogo e eu não tô aqui de graça pra ser diretor de escola falida e de um povo que não tem onde cair morto e só cai no samba pra não cair em desgraça.

Minha escola é nota dez em evolução. Basta ver como fiz esses macaquinhos evoluírem pro estágio de ser humano e fazerem um desfile bom pra TV filmar e pra gringo ver.

Minha comissão de frente só perde pra comissão que ganho pra ouvir esse samba que nem o surdo suporta mais.

Minha rainha da bateria é uma globete loira e siliconada que não tem samba no pé, mas tem a mídia nas mãos. E traz mais Ibope do que a negrinha do morro que eu tava comendo e já deu o que tinha de (me) dar.

Minhas cores são vermelho-sangue e roxo-porrada, se não ganhar o que é meu de direito e de suborno.

Minha bateria é um bando de batedores de carteira e de gente.

Meu refrão rima sempre com cifrão.

6.2.07

 
Eu mereço coisa melhor


De tudo o que eu achei.
De tudo o que me achou.
Do que tem aparecido.
Do que ficou escondido.
Do que, revelando-se, escondeu-se de mim.
Do que eu não tive coragem de tentar.
Do que, tentando, não deu certo.
De quem, dando certo, só me tentou.
De quem me testou, usou e jogou fora.
De quem me deu o fora na hora.
De quem não teve hora nem minuto pra mim.
De quem não me largava um segundo.
De quem eu não gostei.
Do gosto do sofrimento eterno.
Das eternas alegrias tão passageiras.
Da vida que eu tô tendo.
Da vida que eu não tive.
Da vida que terei.
Das coisas que meu dinheiro pode comprar.
Das coisas que compro e servem só pra tropeçar.
Dos tropeços que descaminham meu caminho.
Das pessoas que aproximam sua distância de mim.
Das palavras com sua faca só lâmina.
Do vazio a me escutar.
Da solidão a me encurtar.
Do que vejo refletindo-se no espelho.
Do que fui até agora.
De mim.
E, principalmente,
eu mereço coisa melhor que eu.

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