25.3.16
Look Passeata I
(Versão
oposicionista; escolha a sua)
Nosso país, não o deles, se espalhava na avenida num tsunami verde e amarelo.
Crianças, jovens de caras pintadas, adultos com bebês e
babás (sim, o povo também é contra) e velhinhos bradando muletas e bandeiras do
Brasil provavam que vermelho não é, nem nunca foi, nossa cor.
Urramos para ter nosso país de volta nem que seja no grito.
E cantamos: “apesar do PT, amanhã há de ser outro dia.”
Na festa da democracia, camelôs e outras vítimas da crise,
da corrupção e do desemprego, lucravam. Camisetas “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “In
Moro We Trust” e máscaras do “Japonês da Federal” fizeram sucesso.
Uma garota compartilhava seu “kit color make”, enquanto uma menina
fazia sucesso com seu lhasa apso de bandana nas cores do protesto. Muito fofo!
Nesse mar verde e amarelo, só o preto da Tropa de Choque
contrastava. Alguns tiravam selfies com
os policiais porque aqui não temos black
blocs nem motivos pra nos mascarar.
Queremos destruir só a corruPTção.
1.3.16
Macromicrocefalia
Tamanha a desatenção nível SUS das maternidades, o primeiro passou
despercebido.
Tinha a cabeça pouco menor, mas quem ali se importava diante
das dezenas de “olha-o-sorrisinho-dele”?
Chegaram outros dois. Por não terem pai e ninguém mais além
da mãe, trouxeram consigo o silêncio que é vizinho da estranheza.
Mas pareciam tão felizes que nem notamos quando metade do berçário
tava sitiada por eles.
Metade?
Não.
Os que eram aberração viraram quase totalidade e raro era nascer
um dito normal (no padrão antigo).
Esses pobrezinhos, démodés
que só eles, nem sabiam onde enfiar a cabeça.
Eram ultrapassados no design,
na aerodinâmica, na preferência do público e nas capas de revista.
A moda agora, vinda dos mais abastados, era fazer
cruzamentos genéticos que gerassem a menor cabeça.
Umas mediam menos que um sonho de padaria. Outras, faziam um
ovo parecer gigante.