1.3.16

 
Macromicrocefalia


Tamanha a desatenção nível SUS das maternidades, o primeiro passou despercebido.

Tinha a cabeça pouco menor, mas quem ali se importava diante das dezenas de “olha-o-sorrisinho-dele”?

Chegaram outros dois. Por não terem pai e ninguém mais além da mãe, trouxeram consigo o silêncio que é vizinho da estranheza.

Mas pareciam tão felizes que nem notamos quando metade do berçário tava sitiada por eles.

Metade?

Não.

Os que eram aberração viraram quase totalidade e raro era nascer um dito normal (no padrão antigo).

Esses pobrezinhos, démodés que só eles, nem sabiam onde enfiar a cabeça.

Eram ultrapassados no design, na aerodinâmica, na preferência do público e nas capas de revista.

A moda agora, vinda dos mais abastados, era fazer cruzamentos genéticos que gerassem a menor cabeça.

Umas mediam menos que um sonho de padaria. Outras, faziam um ovo parecer gigante.

Anos depois, quando finalmente uma delas passou pelo buraco de uma agulha, tivemos a certeza de que é do Brasil o reino dos céus.

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