31.3.17
Quem ouve rádio
hoje em dia?
Esquecido
num canto coberto de pó e silêncio, o rádio com suas ondas médias não navega na
internet e nem tira onda de nada.
Seus
botões redondos, que selecionam frequências moduladas em chiados, já fizeram
seus donos chiarem muito e mostram quão quadrado era seu tempo.
Tempo
sem streaming, mas com amor extremo. Desses
que são eram celebrados com música à noite na beira da cama e de manhã às
beiras do carma. Mas, calma.
Ele
ainda deve ter vez e voz. Vós é que se esquecestes dele.
Era
tão falante outrora e agora ensimesmado em silêncio gritante. Berro que só ecoa
na memória. Memória muda quando a palavra ouvida é saudade.
Após
tantos aplicativos, o rádio não tem aplicação. Ou quase: aplica-se à fila dos aposentados
por invalidez do INSS (Instituto Nacional da Saudade Sonora).
Saudade
que em milissegundos volta e gira o botão para ligá-lo.
22.3.17
Carne farsa
Para
dar nome aos bois: que reis sois para dizer que nossas reses são rés?
Se
achais que nossa carne é fraca, apresentai outra faca que nos permita fatiar
esta farsa.
Imbuídos
dos valores embutidos em nós, não vemos problema em rimar gastronomia com orgia
e achamos até que é tudo a mesma porcaria.
Só
o que exportamos é o que nos importa e dane-se a linguiça podre de vossa porca porca.
Se
quem não mata, engorda, comei os presuntos queimados e os corações de galinha desses
veganos destemperados.
Afinal,
se carnaval é a festa da carne, tiramos nossa barriga da vossa miséria e
proclamamos que reis somos nós mesmos e nós momos.