6.9.06

 
Órfão

Esse choro eu conheço. Já o chorei num tempo que, embora remoto, insiste em me vir à lembrança cada vez que essas faveladas deixam na porta esses monstrinhos vindos de um ventre de onde jamais deveriam ter saído; muito menos entrado.

Acham que meu coração (coração?) é do tamanho desta casa e que esse pirralho poderá se apossar de uma das seis suítes que estão tão desocupadas quanto a mente desses infelizes que primeiro pensam em gozar e só depois se lembram de que seu gozo semeia o desgosto de trazer à luz seres com um futuro tão apagado quanto o deles.

Mas não. Esse aí não vai ter a sorte que tive. Até porque eu também não pedi pra me pegarem. Não pedi pra me darem amor e carinho pra eu poder ser alguém na vida. Ainda que para isso tivesse de destruir vários no caminho.

Não. Vai ficar chorando na porta como todos os outros que morreram se esgoelando de chorar um choro tão intenso quanto a alegria que tenho ao saber que ninguém vai tirar ou mesmo pegar uma parte de tudo o que é meu.


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