28.11.06
O silêncio é a gente mesmo demais
“O senhor sabe o que silêncio é? É a gente mesmo, demais”.
Guimarães Rosa
Eu queria falar outras coisas.
Não o que seus ouvidos querem ouvir.
Mas o que os meus têm medo de escutar.
O que, ouvido, fica na memória sem nenhuma tecla pra apagar.
O que, sentido, grava-se na pele e pode ser lido em braile.
O que, pressentido, pré-senta-se na cadeira de morte.
O que, ressentido, bile mágoas e magoa-me.
O que, aceito, não se receita.
O que, feito, destrói a si mesmo.
O que, ensimesmado, não cabe em si mesmo.
O que, de mais a mais, é sempre menos.
O que, ademais, é demais.
O que me minora cada vez mais.
O que aumenta o vazio que me esvazia por completo.
O que de mim é meu eu mais puro.
Um eu que grita silêncios.
E emudece gritos.
E umedece ritos.
E descem rios.
De mim.
Por isso, silencio.