20.3.07

 
Soberba


“A mulher quando é moça e bonita
Nunca acredita poder tropeçar
Quando os espelhos lhes dão conselhos
É que procuram em quem se agarrar”

Lupicínio Rodrigues



O lado ruim de ter o nariz empinado é que basta uma chuva mais forte para a pessoa morrer afogada.

E no caso dela, se chuviscava todos ficavam em alerta.

Sim, porque seu rosto, seu corpo, sua pele, sua altura, enfim, tudo nela chamava a atenção. Era soberba. E o pior: inteligente.

Sua incandescência refletia os olhares invejosos com a energia de cem Itaipus.

Daí, claro, nunca achou ninguém à sua altura (da qual quando ela caía em si ainda errava por seis metros).

E esse era o único erro que cometia. Era perfeita. Mas tinha a imperfeição da perfeição. E esse era o outro único erro que cometia.

Porém, sozinha, os anos passaram e lhe incrustaram rugas, apagaram brilho, traçaram estrias, cavaram celulites, dinamitaram memória, encharcaram lágrimas e deceparam-lhe com decepções sem fim.

Hoje, é uma pálida sombra daquilo tudo que nunca foi.

Comments:
Não sei pra que tantos museus nessa cidade...Se ao menos as múmias que estão à deriva no mar da população tomassem o rumo certo.
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?