24.4.07
“A minha casa é uma caixa de papelão ao relento”
Da música “Inverno”, de José Miguel Wisnik
Não preciso de água porque a lua me banha. O banho e o cheiro podem não ser dos melhores, mas entorpecem os ratos que insistem em retornar ao seu (agora meu!) habitat.
Já os habitantes daqui não valem os ratos que comem. Porque comida pode até faltar, mas educação nunca.
Assim, sempre agradeço a quem me dá um real, dez centavos, um centavo, um cuspe ou mesmo àqueles que regam meus pesadelos jogando álcool e me tacando fogo. Pois só a pinga e o álcool e seus fogos internos e externos podem queimar e cremar essa ausência. Ausência de família, de amigos, de mulher e de mim.
Porque um dia na vida eu fui alguém. Tive tudo isso que hoje é só lembrança. E também já tive esse mesmo olhar de orgulho e desprezo que você está me atirando agora pelo simples fato de achar que nunca acabará aqui nesta caixa onde, além de aguardar o meu fim, guardo um cantinho especialmente reservado para você.