28.8.07

 
O copo


Cada dia que o copo continuava cheio era uma vitória.

Vitória cujo troféu era o próprio copo posto ali, em destaque, no meio da mesa da sala.

Como se com isso gritasse a todos que nunca acreditaram nele: “Tão vendo? Eu não sou aquele bêbado de sarjeta que vocês tanto odiavam. Eu consegui parar! Sim, por mais um dia eu consegui parar!!!”.

Mas não havia ninguém a testemunhar sua pequena conquista pessoal. Como companhia, só o maldito copo que o encarava o dia todo.

Um copo mudo. Mas que ao mesmo tempo lhe dizia, e isso só ele podia ouvir, que cedo ou tarde (mais cedo do que tarde) perderia a batalha praquele minúsculo recipiente de 100ml de desgraça pura; que ele conhecia e temia como ninguém.

Por isso, ficava ali, de longe, evitando até se aproximar da mesa. Ainda que suas mãos tremessem e seu cérebro tivesse só um pensamento fixo: o de que um pequeno e último gole não lhe arruinaria.

Cada vez que pensava nisso se afastava mais da mesa. E do copo que parecia estar cada vez mais perto.

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