9.10.07
“Cai no areal e na hora adversa”
As nuvens negras que cobrem o céu são o reflexo simétrico do fosso que fará o chão lhe faltar aos pés.
Nessa sina sem sinal, cairá de joelhos ante o inimigo a quem um dia se ombreara e hoje lhe pisa a cabeça para que chafurde ainda mais na lama.
Afundado, se acostumará com a grandeza da sua pequenez.
Naufragando quanto mais se agita, desistirá de tentar o intentável.
Parado, não esperará socorro de amigos que não há ou de inimigos que hão de sobrar-lhe.
Faltando algumas horas para partir, perguntará a si mesmo onde errou, mas os erros serão tantos que o deixarão tonto de tanto pensar e penar.
Sem descobrir nem por que veio a este mundo, ficará surpreso com a ânsia que sentirá em sair dele.
Fernando Pessoa
As nuvens negras que cobrem o céu são o reflexo simétrico do fosso que fará o chão lhe faltar aos pés.
Nessa sina sem sinal, cairá de joelhos ante o inimigo a quem um dia se ombreara e hoje lhe pisa a cabeça para que chafurde ainda mais na lama.
Afundado, se acostumará com a grandeza da sua pequenez.
Naufragando quanto mais se agita, desistirá de tentar o intentável.
Parado, não esperará socorro de amigos que não há ou de inimigos que hão de sobrar-lhe.
Faltando algumas horas para partir, perguntará a si mesmo onde errou, mas os erros serão tantos que o deixarão tonto de tanto pensar e penar.
Sem descobrir nem por que veio a este mundo, ficará surpreso com a ânsia que sentirá em sair dele.