27.11.07

 
Futuro


Ó, Senhor, será que um dia eu vou estar feliz ao lembrar desta noite?

Espero que sim.

22.11.07

 
Olhos de ver
“Via tudo o que havia
não via a vida
a vida havia.”

Paulo Leminski


Da sua mesa, ouvia aqueles que não o viam.

O que contavam contrastava com a tristeza que nele se calara.

Riam de ter achado a fome que ele perdera.

Guiavam suas mãos pelos pratos, misturando alimentos.

Aguava talheres aos prantos, triturando sofrimentos.

Iluminados pela luz que lhe sombreava, não tinham a escuridão que lhe sobrava.

Unidos, seus sorrisos eram o reflexo inverso da solidão que ele espelhava.

Querendo ser um deles, não enxergava que ali não havia quem se via em demasia.

Pois o horizonte que viam sem ver era maior que a vida que ele jamais sonhou em ter.

12.11.07

 
Banheiros do Ó


“A vida é o que acontece enquanto a gente faz planos.

A cerveja e a cachaça são os piores inimigos do homem, mas o homem que foge dos seus inimigos é um covarde.

Você vivi para servir ou serve para viver?

A vida é uma festa, mas tem custo.

Agora se perca.

Somente o amor ensina a sofrer com sabedoria e a chorar sem perder a esperança e a fé.

Como é que você explica essa porra, hein Batimam!?!?

Não alimente o tráfico. Cultive.

Que bar do caralho.

Uns tomam éter, outros, cerveja. Eu já tomei tristeza. Hoje tomo alegria.

Kabô kaqui tu vai embora.

O pior não é agüentar chifre e sim sustentar a vaca.

A cana é o que move o mundo.

Foi o cão quem botou pra nóis bebe.

O samba alegra a gente assim como o skank faz a nossa mente.

As rosas não falam. Apenas exalam o perfume que roubam de ti.

Os incomodados que me lavem.

Você acha que é blasé? Peça uma cerveja para qualquer garçom.”

6.11.07

 
Finados


Hoje você é só esta lápide fria.

Passo a mão na placa de bronze que traz seu nome e é a única coisa concreta que restou de você.

Faço o sinal-da-cruz e imagino que está ao mesmo tempo sob e sobre mim.

Hesito em que direção orar primeiro. Na dúvida, oro nas duas.

Faço o sinal-da-cruz e ao mesmo tempo peço que ainda exista um “mim”.

Olho para a placa de novo.

A subtração das datas da sua ida e da sua chegada e o parco resultado dessa operação multiplicam em mim as dores desse cálculo que a cada ano me divide mais.

Dos dias em que vivemos juntos agora só resta este em que venho aqui e faço o desumano esforço de vê-la (?) no único lugar onde não queria.

Podia vir também no seu aniversário, mas a felicidade que emanava no meio de tantos amigos contentes com sua presença não combina com a festa mórbida das baratas nos potes das flores.

Flores que você sempre quis ter a alegria de ganhar de mim.

E que muitos já deixaram aqui sem água porque sabem que serão regadas por minha tristeza.

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