6.11.07

 
Finados


Hoje você é só esta lápide fria.

Passo a mão na placa de bronze que traz seu nome e é a única coisa concreta que restou de você.

Faço o sinal-da-cruz e imagino que está ao mesmo tempo sob e sobre mim.

Hesito em que direção orar primeiro. Na dúvida, oro nas duas.

Faço o sinal-da-cruz e ao mesmo tempo peço que ainda exista um “mim”.

Olho para a placa de novo.

A subtração das datas da sua ida e da sua chegada e o parco resultado dessa operação multiplicam em mim as dores desse cálculo que a cada ano me divide mais.

Dos dias em que vivemos juntos agora só resta este em que venho aqui e faço o desumano esforço de vê-la (?) no único lugar onde não queria.

Podia vir também no seu aniversário, mas a felicidade que emanava no meio de tantos amigos contentes com sua presença não combina com a festa mórbida das baratas nos potes das flores.

Flores que você sempre quis ter a alegria de ganhar de mim.

E que muitos já deixaram aqui sem água porque sabem que serão regadas por minha tristeza.

Comments:
Sapatos e lembranças espalhados pelo chão

Roupas e angústias amontoadas no armário

Perfumes e assuntos mal acabados no criado (quase) mudo

Batons e sonhos pouco usados

Meias e idéias apertadas na gaveta

Um corpo e uma alma jogados no colchão
 
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