22.11.07

 
Olhos de ver
“Via tudo o que havia
não via a vida
a vida havia.”

Paulo Leminski


Da sua mesa, ouvia aqueles que não o viam.

O que contavam contrastava com a tristeza que nele se calara.

Riam de ter achado a fome que ele perdera.

Guiavam suas mãos pelos pratos, misturando alimentos.

Aguava talheres aos prantos, triturando sofrimentos.

Iluminados pela luz que lhe sombreava, não tinham a escuridão que lhe sobrava.

Unidos, seus sorrisos eram o reflexo inverso da solidão que ele espelhava.

Querendo ser um deles, não enxergava que ali não havia quem se via em demasia.

Pois o horizonte que viam sem ver era maior que a vida que ele jamais sonhou em ter.

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