4.12.07

 
Cela de menor


Meu problema não é estar aqui.

Cedo ou tarde, nem que seja muito, muito tarde, sei que vão me descobrir.

Até porque os berros desses marginais que me estupram seis vezes por dia atravessam as paredes desta cela, os ouvidos da delegada, a consciência do povo que passa em frente à delegacia e o sono dos juízes da vara da infância. Ainda que eles durmam tranqüilos por saberem que suas filhas jamais conhecerão a vara na infância.

O problema não é a fome. Dos daqui, tem um que é bonzinho. Me dá comida de vez em quando, enquanto os outros jogam porrinha pra ver quem vai jogar mais porrinha em mim.

O problema também não é pegar aquela doença que emagrece ou ficar prenha.

Porque a governadora falou que já vai estar mandando fazer novas celas femininas pra minha filhinha não passar por tudo e por todos que passei. Dizem que ela, que é mulher como a gente, até chorou.

Meu único problema é saber que saí daqui e, por maior que tenha sido o escândalo, continuarei sendo de menor. Muito menor.

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