11.2.08
Inspirado no filme “Carne Trêmula”, do Almodóvar
Meu horizonte acaba na meia volta que meus braços dão nesta cadeira de rodas.
Condenado eternamente a olhar pra baixo, esqueci da cor do céu e do gosto que ele tinha quando ainda sonhava em devorá-lo.
Hoje, sou obrigado a viver encurvado desviando das fezes dos cachorros que empesteiam as ruas e dos olhares das pessoas que, com suas toneladas de pena, estranheza e escárnio pesadíssimas, querem me curvar ainda mais.
Talvez não devesse mais me erguer mesmo. Devia afundar-me no chão. Estirado. Imóvel. Livre desta carcaça que me acaramuja.
Pouparia você do trabalho de cuidar de mim e, principalmente, me livraria da tormenta de ouvi-la me chamar e não poder levantar e ir ao seu encontro. E olhá-la nos olhos como antes, com a certeza de que o horizonte estava a muitos metros abaixo de nós.