19.8.08

 
Olimpíadas do fracasso



Minha medalha é a de latão. De lixo.

Dele tiro a comida e todas as glórias que a ingloriosa vida me dá.

Meu reconhecimento é ficar escondido sob este viaduto, ouvindo os carros que ninam meus pesadelos e os ratos me mimam.

Imbatível no revezamento de comer dia sim, dias não, compito na categoria peso-mosca, barata, pulga e outros insetos que disputam o espaço desse estádio de sítio.

Nesse uniforme de plástico, pratico várias modalidades: fome à distância, mendicância sincronizada e corrida da polícia.

Quebro recordes mundiais e mundanos e o único hino que ouço é a serena sirene da viatura que quer tirar tudo de quem nada tem ─ aqui não dá pra dar bandeira.

Meu ouro é o choro desses rebentos que dormem ao relento, futuros campeões na arte de perpetuar atletas do fracasso.

Eu vivo por esporte.

E o pódio do ódio é um lugar de onde nunca vão me tirar.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?