21.10.08

 
O dia em que São Paulo parou


Primeira.
O sinal fechado.
Primeira.
A rua cheia.
As buzinas gritando.
As pessoas cheias.
O viaduto sem farol,
mas que não anda;
só enfeia a cidade.
As promessas dos candidatos.
O carro parado.
A vida parada.
O ambulante em cima do Minhocão.
Embreagem.
Ponto morto.
Primeira.
Os prédios escarrados da poluição
que tosse pneumonicamente dos carros.
A temperatura subindo.
A luz amarela da reserva.
A raiva crescendo.
O compromisso sendo perdido.
A gasolina subindo.
Segunda.
O tempo passando.
A reserva sendo perdida.
A cabeça explodindo.
Freio.
Embreagem.
Primeira.
A vida que podia estar acontecendo.
Segunda.
Freio.
Buzina.
Batida.
Briga no trânsito.
O revólver que não devia estar ali.
A vítima que não devia estar ali.
A morte aqui.
Local interditado.
Sirenes.
Ambulância
─ ─ ─
─ ─ ─
─ ─ ─
─ ─ ─
que não chega a tempo.
Mais trânsito.
Primeira.
Duas horas.
Segunda.
As mentiras dos candidatos.
Uma terceira que é finalmente engatada, mas os 40 quilômetros não recuperam o tempo de uma vida inteira perdida.

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