7.1.09

 
Xadrez de olhar


O velho vira com raiva a última folha do jornal que lê pela terceira vez, olha para as 50 mesas vazias do clube e apaga o 12° cigarro do dia. As peças brancas do xadrez, à disposição para estimular um possível adversário, esperam há horas alguém surgir.

Do outro lado, na portaria de vidro feita para impedir o barulho (qual barulho se não há ninguém?), seu Virgílio vê a cena diária se repetindo. A mão que apóia a cabeça sente mais o peso do desânimo do que da cabeça.

E pensar que o clube fora tão diferente. Lotado, com filas de gente para jogar nos campeonatos que atraíam os melhores do Brasil e do mundo. Tantas histórias. Como a da mulata sargentelesca que arrumaram para tirar o sono de um russo na véspera da final. Hoje, nem as moscas vêm mais. A internet acabou com tudo.

Seu Vírgilio acena pro velho, que não retribui.

O velho pensa na vida (ou na falta dela).

Seu Vírgilio pisca e cochila.

O velho irrita-se mais.

Seu Vírgilio ronca.

O velho joga o rei no cinzeiro e se levanta.

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