16.3.09

 
Os suicidas hereditários


Quando o primeiro se matou, todos da família acharam que o mundo tinha acabado.

O suicídio, até então só visto nos jornais, se fez presente com um peso insuportável pairando sobre eles.

Quando as lágrimas estavam quase secando por não ter mais de onde jorrar, outro repetiu o gesto.

Descobriram que o mundo podia acabar de novo. A comoção e os presentes ao enterro foram bem maiores. Todos com os seus “são-coisas-da-vida(?);-tenham-fé-que...”.

Mas, não. Eles não tinham fé. E nem o terceiro, que não suportou a perda dos dois.

Saiu na tevê. Uma multidão acompanhou o enterro. Todos com os seus “vocês-vão-superar...”.

Na família, só o silêncio. Pensamento era só um: na palavra proibida. Desconfiavam de si. Receavam que outro quebrasse o pacto de não fazer.

E mais um fez. Com igual repercussão, mas bem menos pessoas. Agora sem nada a dizer. O povo temia que isso fosse contagioso.

E era. O quinto se foi.

Só sobrou um, que não quis morrer antes de levar a saga da família adiante.

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