5.5.09

 
Elevador


Soca o botão do alarme. Três, sete, quinze vezes. Nada. Berra. Berra mais alto. Ninguém. Esmurra a porta. Tenta puxá-la. Em vão. Aperta todos os botões. Quarenta minutos. Todos de novo. Grita. Duas horas e meia. Se desespera. Não é possível que todos tenham viajado no feriado. Alarme mais dez vezes. Murros, pontapés, raiva. O rateio da reforma ainda pesando no bolso. A conta vermelha no banco. A mão sangrando. E a merda ficou pior do que era. Sete horas já. Pensa em sair pelo teto. Cinco andares. Quebraria “só” as pernas talvez? Receberia pensão do INSS? Não, loucura. Melhor esperar. Tenta se acalmar. Aproveita pra pensar na vida. Como ela tinha mudado nos últimos anos. Pela primeira vez, sem emprego, salário fixo ou carro do ano. Estagnado. Como o elevador. E sem sonhos, o que é pior. Ou agora com o único sonho de sair dali. Desiste de pensar. O cansaço o fez dormir e perder a noção do tempo. Acorda. Mija pelo buraco da porta. Fome. Sede. E a incrível vontade de mudar de vida.

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