2.6.09
A testemunha
Inspirado na obra de Saint Clair Cemin
Mesmo estando em cima dela, o peso desta cadeira me é insuportável.
Pairam sobre ela os olhares nada cegos da justiça e sob ela o reflexo dos meus temores que encharcam o piso.
A culpa, que não é minha e nem do acusado, também não pode ser de quem é, pois maior que o juramento que fiz aqui é a jura de morte que me fizeram lá.
Nesse lusco-fusco entre a consciência e a sobrevivência, as memórias apagadas pela sombra do medo tentam esconder-se da ofuscante luz da verdade.
Salvando, sei que aquilo que omito pode me tornar culpado. Culpando, emito minha própria condenação. Calando, tento uma saída em vão.
Com nada mais a declarar além do que não disse, atesto que a única culpa, na verdade, é de quem me pôs-prostrou aqui.