4.8.09

 
A liberdade que eu tenho pra sonhar


Antigamente, eles até deixavam os pensamentos tomarem banho de sol.

Raríssimos, é verdade. Dois ou três por mês. Temiam que eles ultrapassassem as áreas delimitadas (há tantas aqui que era mais fácil não limitar o que extrapolou o limite). Até que um louco (só podia ser louco) ousou pensar grande demais e sonhar acordado. Seus pensamentos quase cruzaram os muros e por pouco não se transformaram em sonho; palavra mais odiada por eles. O castigo foi fulminante pra todos. Pensar ficou proibido também. Palavras que a gente fala agora, só as das cartilhas. Elas ensinam a resposta pra cada pergunta ─ quando nos deixam dizer, é claro. Este ano, por exemplo, não. Dia desses eu tava olhando a lua e não sabia o que fazer. Procurei nas cartilhas e nada. Mas sempre eles criam uma nova. Repetem que nós, os imprestáveis, não precisamos nos preocupar com nada.

Nem com o fato de que eles estão acabando de vez com a gente e com toda a liberdade que eu tenho pra sonhar.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?