20.10.09
Malabares no ar III
Antes sonhávamos com desejos maiores. Tentando não nos contentar com o pouco nunca muito que nos dão. Dão? Não. Eles nunca dão nada. No máximo, emprestam. Só pra sentirmos o gostinho. Provar. Ver como é bom. E aí, tiram. Tiram? Nada. Arrancam. Como se não merecêssemos. Ou merecendo não pudéssemos. Ou pudendo não nos dispusessem. E ainda cobram juros explosivos por esses parcos segundos de felicidade emprestada que mal curam uma vida inteira de desgraça parcelada em nada suaves prestações. Sim, sabemos que a felicidade é cara. Que nunca vem de graça. E que a desgraça de não tê-la é muita. Mas precisava custar tantas lágrimas? Acabar com princípios? Roxear manchas? Cataratar sangue? Estuprar a alma? É, acreditávamos que não. Mas também nos extirparam todas as crenças. Até a dos desejos menores. Como, por exemplo, o de querer continuar sobrevivendo.