17.11.09
Durante o meio segundo que você leva pra desviar o olhar
Farol vermelho. O carro é chique. Deve ter grana. Penso em pedir. Mas os que têm grana são os piores. Só pobre sabe o que é fome. Será que rico nunca teve fome? Nem quando faz regime? Despenso. Mas eu tô sempre pedindo. Implorando. E nada. Eu-podia-estar-matando. Eu-podia-estar-roubando. Eu podia dizer outras coisas. E ouvir outras coisas além de “não”, “não tenho”, “hoje não”, “tô sem trocado”. Ou a cabeça deles balançando que não, seguida daquela cara de quem tenta mostrar que é mais miserável que eu. Mas o pior de tudo é o barulho do vidro automático fechando na sua cara. Sem uma palavra. E com todas as palavras que eu sei que eles falam por dentro. Acham que sou vagabundo. Que nunca quis estudar. Que tive mãe, pai, casa, família, essas coisas de gente comum. E que tenho mais é que me ferrar mesmo. Pô, mas esse parece diferente. Não custa tentar. O estômago gritando: “vai!”. Tem jeito de religioso. Senhor, desculpe incomo...
Farol vermelho. O carro é chique. Deve ter grana. Penso em pedir. Mas os que têm grana são os piores. Só pobre sabe o que é fome. Será que rico nunca teve fome? Nem quando faz regime? Despenso. Mas eu tô sempre pedindo. Implorando. E nada. Eu-podia-estar-matando. Eu-podia-estar-roubando. Eu podia dizer outras coisas. E ouvir outras coisas além de “não”, “não tenho”, “hoje não”, “tô sem trocado”. Ou a cabeça deles balançando que não, seguida daquela cara de quem tenta mostrar que é mais miserável que eu. Mas o pior de tudo é o barulho do vidro automático fechando na sua cara. Sem uma palavra. E com todas as palavras que eu sei que eles falam por dentro. Acham que sou vagabundo. Que nunca quis estudar. Que tive mãe, pai, casa, família, essas coisas de gente comum. E que tenho mais é que me ferrar mesmo. Pô, mas esse parece diferente. Não custa tentar. O estômago gritando: “vai!”. Tem jeito de religioso. Senhor, desculpe incomo...