15.12.09

 
Vaca homeopática


─ Tá doendo?
─ Que nada. Vai até o fim.

Porra, dói pra caralho! Mas desistir agora? Logo na última? Não. Mas tinha que ser no rosto? Sim. São 23 manchas dos pés à cabeça. Ou das patas à cabeça, como ironizou um empresário babaca. Fez gracinha, me chamou pra sair e no final nada de patrocínio. Se eu tivesse dado pra ele, liberaria a grana. Idiota. O outro banca a Bienal e acha que tá ajudando o país. Não sabe o que é a verdadeira arte. Burgueses escrotos. Danem-se todos! Vai sem patrocínio mesmo.

Quando minha arte for reconhecida, ah, eles vão ver. O mundo inteiro verá. Aqui, ó, na minha pele! Nada de quadros embalsamados. Sou o próprio suporte do meu talento.

No começo, nem o tatuador topou; foi foda convencê-lo. Até os amigos me isolaram: puta piração minha, disseram. Meus pais então, nossa, nem falam mais comigo.

Mas agora eu é que não vou falar com ninguém. Quero ficar só aqui, ruminando meus pensamentos. Louca pra virar uma vaca e concluir meu projeto “Vaca Pró-Fama”.

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