26.1.10

 
"Mendigos serão sempre necessários*"


Juntou o que sobrou e não levou nada.
Mal conseguia levar-se a si.
E, se conseguisse, pra onde? Talvez ali naquele beco. Não sabia se havia ordem naquilo que era a mais pura desordem. Resolver sentar e esperar a reação deles. Depois de olharem três segundos, nada. Indiferença igual entre todos. Ele era só mais um ninguém. Permissão não precisava. Enfim, uma família sem protocolos. Não comemoraram nem reclamaram. Como o nada não se divide, não fica menor e nem acaba. Ao contrário, parece que vai aumentando. Sensação de ter cada vez mais um vazio que invade as ruas e ele próprio, apagando a memória daquilo que foi e das coisas que possuiu. Apagando-o lentamente. Nota que perdeu até o RG. Não tinha se preparado pra isso. O destino não dá aviso prévio.
Ouve um barulho e vê que já não é o último novato. Percebe-se retribuindo a mesma indiferença que recebera. Igual.
O nada não se divide, embora tenha cada vez mais adeptos.


* Bertolt Brecht.

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