Miniconto

Ressonâncias magnéticas e eletrônicas


TUTS TUTS TUTS TUST TUTS TUTS
Esse barulho, quer dizer, essa música, parece onde eu estava
Tuts TUTS tuTs tust tutS Tuts tuTS TUst
mas onde é que eu tava mesmo?
Tuommm tuomm toom toomtoomtoomto
era noite
Tóó tóóóó tótótótótótótótótó
era? sei lá, tá tudo branco aqui
Tuunnn tunn tun tuntuntunnnn
ah, a rave no sítio; só a galera siderada pulando
tuTs tust Tuts tuts tutS TUTS tuTS Tust
bebidas e estimulantes à vontê
Turuuu Turuuuuuuuu Tututututututu
estimulantes e bebidas à vontê
TTuts tutS Tuts TUST tuts tUts tuTs
mas cadê o pessoal? por que tô sozinho aqui?
TóóóTTotótót´to´to´T´tot´toTóóóóóó
eu entrei na vibe? que porra me deram?
Tuuu tuuuuuuu tututututuutututututuu
puta doidera! quando sair daqui vou maneirar nas próximas
TUTtttS tutstuTstust TUTS TUTS TUTS
mas como faço pra sair daqui? por que minhas pernas não se mexem?
Tuoom tuom touom tuoóómmtótótótótó
falaram alguma coisa de buraco... mas que buraco?
tuts tuts tuts
porra de DJ de merda! a música de lá tava bem melhor!!!

O desfragmentador


─ É, por mais estranho que pareça, meu trabalho é esse mesmo: as pessoas me pagam pra reunir pedaços. Seus próprios pedaços.
─ Como é que é?
─ Sabe aquele sisteminha que agrupa os arquivos que travam o computador? É quase igual. Alguns me chamam de desfragmentador...
─ Sei... Tipo um psicólogo cibernético.
─ Casais que só brigam, encalhados loucos pra casar, gente que não consegue nem ser gente... São todos meus clientes. Pego um monte de restos que não prestam, frangalhos que estavam esperando só a próxima pazada pro lixo, reorganizo tudo e dou uma nova vida a eles.
─ E funciona?
─ Claro! Funciona muito bem pra engordar minha conta bancária.
─ Como pode ser tão mercenário?
─ Mercenário, não! Eu vendo sonhos. E faço o povo acreditar neles. Prometo a todos: “Ó, hoje, sua vidinha é assim, mas com meu método revolucionário ficará ASSIM”!
─ E qual é esse método tão revolucionário?
─ Um dia eu conto... Vamos pedir a conta.
─ Mas já?
─ Já. Tô louco pra ir pra casa. Hoje eu tô só o caco.

Queria o quê?


Que ficasse esperando a sua demora pra sempre?
Que os poucos momentos vivido juntos fossem eternos na sua fugaz efemeridade?
Que a distância não representasse uma barreira intransponivelmente longa pra uma vontade agora tão curta?
Que voltassem a se encontrar mesmo após encontros perdidamente desencontrados?
Que a saudade deixasse marcadas lembranças das quais ninguém se recorda?
Que o tempo não congelasse um sentimento tão caloroso quanto o gélido abraço de vocês?
Que aguardasse incólume seu retorno enquanto brincava distraidamente na ciranda dos desejos e não tentasse tentar as tentações?
Que não achasse alguém melhor do que você com tanta gente melhor por aí, por lá e onde quer que seja?
Que tivessem uma família grande e feliz mesmo não tendo fertilizado nada além do que o ódio recíproco?
Que só existissem vocês no mundo, embora o mundo de vocês tivesse acabado?
Que o amor de vocês inspirasse um filme em vez desta notinha fúnebre nos jornais que ninguém lerá?
Que queria você?