11.5.10

 
Não é por aí


Você chega; balbucia um “oi” quase inaudível; reclama do trânsito, do trabalho, das contas a pagar.
Guarda a carteira no mesmo lugar de sempre; desliga o celular (prefiro não confiar na intuição e não perguntar por quê); liga a tevê em volume alto pra ouvir de longe; tira a roupa; toma banho.
Abre a geladeira; pergunta se não tem outra coisa; esquenta a janta no micro por dois minutos e 30 segundos; come vendo o jornal (um dia ainda vou merecer a mesma atenção que você dá à apresentadora).
Pega uma cerveja; fuma na sacada olhando pra lua e travando um diálogo imaginário com ela (e eu aqui, a anos-luz de distância).
Nada de mim, nada de nós, nada da nossa relação.
Ao meu “não podemos viver assim”, arqueia as sobrancelhas; dá uma tragada mais forte; diz que todo dia é a mesma coisa (jura?), que você não faz nada de errado e eu só implico.
Quando falo que é melhor a gente se separar, diz que tô fazendo drama e que a saída não é por aí.
Olho pra porta com o “por aí” ecoando em mim.

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