8.6.10

 
A falsa tranquilidade da chama da vela enquanto o Vento não vem


Bruma tropeça na internet numa receita da Ana Maria Braga e, perdida entre ovos, açúcar, claras em neve e lágrimas, se vê fazendo o que nunca pensou: algo indicado por aquela mulher. “A que ponto cheguei.”

Desconjuntado ─ “nada vindo daquela mulher podia dar certo” ─, o bolo toma fartas pazadas de cobertura de latinha. Quase uma argamassa a unir a estrutura tão frágil quanto ela.

Rebocada, a obra ganha uma vela de cinco enorme; visão que a faz esboçar o primeiro sorriso do mês.

Enquanto espera (“aniversário de quando se conheceram, véspera do Dia dos Namorados; é claro que ele vem”), se pergunta onde errou.

Acende a vela se questionando se o recheio tá muito doce. Se fora demais doce com ele. “Homem odeia mulher que se entrega toda.” Se devia ter dado só uma fatia de si.

A chama responde com tímidos balançares, difíceis de traduzir.

Duas horas já de atraso; abre a janela querendo ar e menos angustia.

A chama trepida mais.

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