29.7.10

 
O abraço do taxidermista


O abraço apertado foi duplamente inesperado: pela força daquele japonês raquítico com cara de quem só come sushi diet e porque não me conhecia.

E estranho também porque o Museu de Ciências Naturais tava fechando, não havia mais ninguém e o cara podia até me xingar. Já ia desenrolar a saga para atravessar a cidade, falar que visitava Manaus só pra conhecer o museu, garantir que meu voo era naquela noite, que... Mas não. Ao “é claro que pode entrar” emendou um “que bom que venho”, seguido por um amável sorriso, como se me esperasse há tempos.

Com paciência oriental mostrou as mais de 120 espécies de peixes e insetos, num desfilar de pirarucus, tambaquis, tucunarés, matrinxãs, jaraquis, aruanãs e bichos tão belos quanto intermináveis.

O tempo não passava pra ele. E eu preocupado com o ônibus da volta, com a saída à noite, com o estômago.

Ele, parado. Só olhando. Surpreso por eu querer sair e tentar me safar de seu abraço de despedida, ao invés de ficar ali pra sempre.

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