19.8.10

 
Bíblia


Suadas, as mãos caminham ansiosas na direção do objeto sagrado que ocupa o centro superior da estante; seu principal troféu exposto.

Sente o prazer do peso tijolar que acalma a tremedeira das mãos e da mente. A disposição do texto, com seu retilíneo rigor formal, é clara: Deus escreve certo por linhas certas. Se há algo que salva, esta coisa está ali.

O prazer tátil de passar o dedo nas letras miúdas que a vista cansada quase não lê torna-se um vício.

Com o tempo, acostumou-se tanto que seu dedo já adivinhava as vírgulas e os pontos finais. Sem ver, começou a calcular o número de capítulos por página, a quantidade de linhas de cada versículo e a sentir até um ligeiro sobressalto nos negritos. Treinado, passou a frear ao percorrer as perigosas palavras-lombadas.

Quis radicalizar e passou a entender de olhos fechados o que seu dedo lia nesse braille imaginário que absorvia tudo, a ponto de ir apagando o que tocava.

Sonha com a luz do branco total das páginas que o iluminará um dia.

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