30.9.10

 
Megaplégica


Penso, penso, penso demais.

Que meus dedos, que há anos não olho, sinto ou vejo, podiam se rebelar e, numa revolução com as mãos, forçar os braços a tomar uma atitude. Qualquer uma. Menos esta de não tomar nenhuma.

Que meus pés, que um dia andaram, correram e me levaram aonde queria, deviam dizer pras pernas como é ridículo ficar parada enquanto há bilhões de quilômetros no mundo mais interessantes do que este quarto de dois metros quadrados.

Que esta cadeira de rodas nada perderia pra uma cadeira elétrica.

Que estas camisas toscas, que eles me põem sem me perguntar se gosto ─ e daí se não falo? ─, precisam ser trocadas por uma camisa-de-força.

Que meus pensamentos devem parar de pensar que pensam porque nada do que pense mudará o estado vegetativo de quem adorava carne, tinha fome de vida e hoje vive, ou melhor, sobrevive à base de rodízio de soro.

Que meus olhos, que ditam este texto piscando, podiam fechar de vez. Me deixar parada de verdade. Até alguém perceber. Quem sabe...

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