9.1.11

 
O poeta n.° 2

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
Drummond


Segundos após a morte do poeta n.° 1, o celular do poeta n.° 2 desanda a tocar.

Querem saber o que ele achava do poeta n.° 1, qual a maior contribuição dele para a poesia, o peso da sua ausência e, acima de tudo, como se sentia sendo o novo n.° 1.

Décadas e décadas na fila de espera, torcendo pra alguém pôr vidro moído naquele chazinho da ABL, e ele, que tanto odiara o defunto, não sabia o que dizer.

Falaria que era não só um melhor poeta n.° 1, mas o mais genial poeta n.° 1 de todos os tempos? Que era mais brilhante que o falecido, embora este sempre o sombreasse? Que os melhores poemas daquele não preencheriam nem uma lápide média?

Não. Sua preocupação não era com o morto. Era com o poeta n.° 3, alçado hoje ao posto de poeta n.° 2 (seu antigo posto).

Preocupação justíssima, pois, como todos sabemos, a inveja sempre supera a poesia.

Comments:
David,

Retribuo a visita e aproveito para parabenizá-lo pelos textos. Bacanas.

Apareça n'O Muro.

Abração.
W.G.
 
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