2.11.11
Órfão II
Já sequei esse choro.
Daqui não sai mais nada.
Lágrimas, sangue, emoção, esperança, esperma, DNA, NADA!
Ninguém vai tirar nada do que é meu.
Desse meu eu tão pouco e oco, apequenando-se, subtraindo-se, dividindo-se e recusando-se a se multiplicar em qualquer outro eu que me tire código genético, doença hereditária, falta de caráter ou ganhe de mim em fracassos sucessivos.
Neste país sem pais nem pátria, não quero ver nenhum óvulo cego gritar em ultrassom seu direito torto de estancar esse aborto e não nascer natimorto.
Eu já morri muitas vezes em mim.
A cada vez que me espelho, reparto e parto grávido de incertezas, ávido por mudanças e sem exames de consciência.
A cada vez que piso sem chão, me abismo de mim e aprofundo essa depressão.
A cada vez que olho pra trás e trago do passado um presente sem futuro.
Sem ter datas comemorativas, natal ou pré-natal.
Esses eus que morreram em mim não merecem ressuscitar em nada do que a vida ouse vingar ou me vingar.