6.9.12
Ali os alicerces de
Alice
Ali os alicerces de Alice: sapatos altos de agulha fincada
na pele branca-baba dos clientes que ela repelia como os sapatos catapultados
agora às 4h48 da manhã contra a parede 2 X 1,7m da quitinete do Baixo Augusta.
Não podia calçá-los: a louca de baixo fez abaixo-assinado
pra escorraçá-la de lá e afundar mais sua depressão.
Lá: prédio “de família” onde não se toleram moças assim,
mesmo com suas boas-tardes de elevador, condomínios em dia e cabeça baixa
diante de olhares superiores.
Aqui: redoma no 18° andar pra esquecer de si e do mundo e se
sentir menos suja nos banhos 40 minutos de conta de luz cara pra tentar acender
sua moral apagada e ascender sua
baixa-estima.
Do alto, via as vias e a vida que não queria.
De baixo, olhava pro teto que a oprimia como os gordos
casados do próprio prédio baforando a desculpa da reunião externa.
Rosto colado no chão, mirava os sapatos: só eles a sustentariam
a trabalhar de novo e impedir que ela fizesse algo
para que tudo
ali cesse.