5.2.13

 

A fundação da cidade


─ Chegamos aqui, terra chã.
─ (som monstro de bate-estaca)
─ Reles relando o vazio. Nada nadando no ar. Mato matando tudo.
Desmatamos.
Fizemos.
Refizemos.
Tornamos a fazer.
Construindo ─ em cada pedra, laje, casa, meta ─, um pouco dos já muitos de nós que fomos nos multiplicando até ganhar o corpo inteiro desta que já podia chamar-se e, acima de tudo, gabar-se de cidade.
─ (avançando o trator: Por favor, com licença.)
─ Na lida, feridas que tínhamos eram frestas que exalavam nosso desejo maior, cada vez tamanho, gigandantesco, de tornarmo-nos um povo reconhecido pelas obras; sobras de iras que soçobravam bravura travestida de concreto.
─ (avançando mais: Com licença...)
─ Fomos indo. Além. Além do além. Morte acidental de um ou outro, em acidentes-acintes obrigatórios para o progresso, não nos desestimulava; embora uns mal tivessem tempo de receber a cava cova.
─ (passando por cima)
─ Hoje, nessa cidade tão nós-nossa, avistamos, ao longe, a nova fundação da cidade afundada.

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