27.12.14
Cesta de Natal
Cem gramas de esperança podre
comprada na correria do fim da feira porque era mais barato.
Cem gramas de grama pra servir
de couve gourmet pro burro que nasceu pra pastar na vida.
Sem ganas que nem precisam
ser compradas porque não valem nada.
Toneladas de frutas e vidas secas
pra serem regadas com o choro moído da discórdia.
Presuntos defumados com a fumaça
dos micro-ondas de traficantes do ódio.
Dúzias de falsidade estragada
pelos entreabertos tapioéres do desencanto.
Dúzias de falsidade reciclada
pelos sorrisos ocres de quem dá tapinhas e facadas nas costas.
Quilos de desejos-de-tudo-de-bom
regados ao pegajoso caldo de tudo-de-péssimo.
Tigelas de votos de ano iluminado
apagado pela bílis negra do sarcasmo.
Travessas de sonhos recheados com
o veneno dos pesadelos amanhecidos.
Forminhas enfeitadas de boas
vibrações e adornadas só com péssimas intenções.
Presentes inúteis de quem se faz
ausente o tempo todo.
Trocas impossibilitadas por códigos
de barras pesadas.
Uma meiga embalagem.