13.5.16

 
O Supermercado Solitário agradece a sua visita


As 377 latas de sardinha do armário gritam para eu comprar mais sardinha.

Vejo a entrada do mercado, mas passo pelos caixas e os cumprimento; eles, como fazem todo dia, respondem.

No corredor da sardinha, a placa confirma: é ali. Mas pergunto pro repositor onde é. O rapaz, de pouca fala (uma pena), diz um suave “aí”.

Pego uma só. Elas estarão sempre aqui.

Esbarro de propósito numa velhinha (as de echarpe são as melhores), me desculpo e pergunto pelos caixas. Ela responde e já reclama dos preços, do governo, do frio que agrava a artrite, do “nervo asiático” e do genro desempregado que pede cerveja cara. Como falei, são as melhores.

No caixa, uso moedas pra demorar mais. Repito o papo da velhinha, mudando a artrite pra espondilite anquilosante (doenças exóticas geram perguntas).

E o grand finale: na saída, a máquina do estacionamento me arrebata: “O Supermercado Solitário agradece a sua visita”.

Eles ainda me agradecem por ter vindo.

Sou feliz aqui.

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