1.9.16
Flor do Sumaré
Ele sente a vida amarga e compra um sonho.
Ela surge como a melhor doçura que já conheceu.
Ele a chama pro cinema. O filme? Qualquer um que ela estrele.
Ela dá olé nos beijos; ele acha que o cachê dela é muito pro
seu orçamentinho.
Ele sussurra poemas no ouvido dela.
Ela ama os versos e toca seus lábios nos dele e vice-verso.
Ele pousa o anel no dedo dela e bamboleia ali todas as suas
esperanças.
Ela joga o buquê e chove pétalas e lágrimas de um casamento
inesquecível.
Ele a engravida.
Ela tem o bebê mais lindo do bairro.
Ele pega o rapaz na escola.
Ela se desespera com tanta coisa ruim que ensinam.
Ele perde o emprego.
Ela, a vontade de tudo.
Ele se despede do filho que não verá mais.
Ela perde o único pedaço de si que não estava despedaçado.
Ele, velho.
Ela, vela.
Ele mexe no celular e almoça com ela na padaria Flor do
Sumaré.
Ela, no celular, finge que almoça.
Ele levanta e paga a conta.
Ela conta as pragas.
Ele volta sem o sonho que ela pediu.
Ela pergunta por que os sonhos custam tão caro.